quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Uma a Uma

foto: Érica Beltrame

Esse é mais um gozo, um gozo que talvez seja incomparável a qualquer outro tipo que venha me acontecer. Eu nem esperava te-lo tão cedo. Está chovendo e faz frio, o dia hoje é definitivamente úmido, não há nada de seco a não ser meu estado.

As palavras estão começando a sair do meu imaginário, eu as imagino primeiro, depois fico sentindo uma a uma. Muitas delas parecem nem ser, mais quando as toco logo sinto seus batimentos. As palavras me batem na cara, e não é nada como os pingos da chuva, esses pingos são poéticos, aliviam a alma de quem esperava por algo que lavasse o que mostrava-se sujo.

Na minha cara fica forte, uma mascara de ferro, tem vida no seu teatro. Meu palco está aberto, e eu nem estava preparada, não ensaiei nada, não estou esperando ser ovacionada pela platéia. Espero só que o silêncio seja respeitado, não terei nada a dizer nessa cena que foi escrita por você. Estou preparada.

Bobagem querer escrever algo que faça sentido para tudo isso, é tão mais simples e seguro ficar sentada em frente à janela ouvindo a chuva, apreciando a cor cinza e seus variados tons no céu, quero algo que amorteça a queda, pois não sou como a chuva e sei que ao cair será como um cristal quebrando, não sobrará nada.

A queda é lenta, a platéia terá que participar só assim a queda será como tem que ser. Os pensamentos falam mais alto do que o próprio texto que não existe. Qual a sua preocupação nesse momento? Está pensando se vai quebrar? Está imaginando como é caro um cristal? As mãos já estão encostadas nos ouvidos? O medo!

Medo de ser muito alto o som ao tocar o chão, medo que espalhe e corte a face, medo ao pensar que não encontrará uma peça igual. Não deixe o ridículo tocar você, isso não tem valor, a queda é muito mais valiosa. Aprecie a queda, a lentidão pode te dar um gozo de perceber a beleza dos estilhaços que estarão prestes a ficar espalhados pelo palco.

Aprecie, goze da queda do cristal, goze o instante em que tocará o cão, o som do cristal poderá revelar algo novo aos seus ouvidos. Vamos! Não quero ninguém com as mãos nos ouvidos no momento em que largar o cristal. Quero que sintam coragem, quero que olhem e não se fechem. É apenas uma taça de cristal e a champanhe é da mais barata.

..Érica Beltrame 

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