|
Desenho: Sem mascaras - Érica Beltrame |
Eu tenho tentado
encontrar uma brecha, pequena, proporcional ao tamanho da vontade que tenho
sentido em estar presente no aqui e agora. São estreitos e bastante
insignificantes o que ainda me parece fazer algum tipo de sentido. Tenho entrado
em um estado diferente em determinados dias, até mesmo o medo de não dormir não
me é mais medo, tenho a coragem dos pequenos e manipulados comprimidos.
Às vezes pela
fresta da janela a brisa me agita, e em pequenos e desconsideráveis instantes,
me preparo para sair. É incomparável o
que sentimos, mas sempre existirá a ignorância e a pretensão dos que acham que
podem acrescentar algo em torno do que está sendo apreciado por um momento de
um. Existem momentos que só são possíveis a um, e esse é o meu momento.
Penso em
mariposas, o meu despertar poderia ser o de uma borboleta, mas talvez por
apreciar nesse momento à noite, que me assegura o não precisar sair para o encontro
desprezível dos seres, me asseguro nas mariposas. As mariposas
diferentes das borboletas pousam com suas asas abertas, e tem hábitos noturnos,
para mim é um ato que expressa coragem. São consideradas em algumas culturas
como bruxas.
Não tenho nada
de bruxa, a não ser que minha mudança de humor em consequência das mudanças do
ciclo lunar seja um sinal de bruxaria em meu ser, caso contrario nada me remete
a uma tendência ao ser bruxa.
Eu sempre
questionei a existência, questiono, mas não a afronto, pelo menos não tenho
afrontado nos últimos 6 anos. A única coisa que não pretendo questionar é se
escrevo para me mostrar, e se me mostro na tentativa de me esconder.
A pretensão é
inerente a qualquer ser que exista com consciência, com a racionalidade em uso,
então escrever é um ato pretensioso de difundir o que se sente, ou o que
somente é criado por não ser possível de se sentir. E o que eu crio agora expressa
o que não posso sentir.
E essa malevolência
que insiste na minha companhia, e que feito um casulo a cada dia espreme a
minha existência como se houvesse a necessidade de renascer de ressentir. E nesse instante
a única coisa notável é a lua riscando como se fosse um sorriso o céu.
Existe uma magia
nesses traços, mas nada é o suficiente para uma bruxaria, é uma saborosa e única
maneira que me encontro em dias que nada mais é, a não ser essa desistência do
ser.
..Érica Beltrame