Desenho à lápis: Sem mascaras - Érica Beltrame |
Eu às vezes me anulo
me escondo das palavras, fico em um estado de silêncio profundo, é a única e
mais inteligente maneira de me esconder, é estreito o caminho que percorro na
tentativa da anulação total de tudo que possa ser revelador. Não que eu não me revele
o viver já é uma revelação, falo da revelação do mundo das coisas minhas, do
mundo do dito pelo não dito.
Às vezes me
revelo no simples ato de folhear um livro, no instante que sinto o cheiro velho
e me perco em lembrança passadas, me faço refém, é a nudez de tudo que possa
estar em segredo. O passado fica quase sem sentido é como se toda aquela
composição nunca tivesse passado.
Como pode algo
compor um espaço no passado se ele está ali tão presente em um cheiro de livro
velho, ou na textura das folhas cobertas por furos de traça. A anulação do
passado é impossível.
Não sei o que
pretendo revelar nesse instante, mas sei que a revelação existe e é agora o seu
mais estreito momento, o mais pavoroso, quando a pele erriçada já exibe uma
revelação.
O olhar, esse
não faz tanta diferença, o que importa mesmo são as palavras que insistem em
ser, é quase uma exigência própria.
Se me revelo
neste instante que seja como todas as outras vezes, com caminhos turvos para
aqueles de olhar somente curioso, que seja frio aos que possuem a palavra somente
dita, e sem entendimento aos que vivem somente para o que se pode entender.
..Érica Beltrame