quarta-feira, 9 de maio de 2012

Revelar-se


Desenho à lápis: Sem mascaras - Érica Beltrame
Eu às vezes me anulo me escondo das palavras, fico em um estado de silêncio profundo, é a única e mais inteligente maneira de me esconder, é estreito o caminho que percorro na tentativa da anulação total de tudo que possa ser revelador. Não que eu não me revele o viver já é uma revelação, falo da revelação do mundo das coisas minhas, do mundo do dito pelo não dito.

Às vezes me revelo no simples ato de folhear um livro, no instante que sinto o cheiro velho e me perco em lembrança passadas, me faço refém, é a nudez de tudo que possa estar em segredo. O passado fica quase sem sentido é como se toda aquela composição nunca tivesse passado.

Como pode algo compor um espaço no passado se ele está ali tão presente em um cheiro de livro velho, ou na textura das folhas cobertas por furos de traça. A anulação do passado é impossível.

Não sei o que pretendo revelar nesse instante, mas sei que a revelação existe e é agora o seu mais estreito momento, o mais pavoroso, quando a pele erriçada já exibe uma revelação.

O olhar, esse não faz tanta diferença, o que importa mesmo são as palavras que insistem em ser, é quase uma exigência própria.

Se me revelo neste instante que seja como todas as outras vezes, com caminhos turvos para aqueles de olhar somente curioso, que seja frio aos que possuem a palavra somente dita, e sem entendimento aos que vivem somente para o que se pode entender.

Revelar-me em verbos do passado, me parece à única saída do desejo de ter tudo aquilo que está em exigência à revelação.

..Érica Beltrame