sábado, 20 de fevereiro de 2010

A parte de

foto: Érica Beltrame - Silhouette - 1912 0 Gustav Klimt

Quero fazer parte para tentar ser a parte de algo
Para tentar fundir algo na minha parte que tanto não me faz parte
Quero a parte que me falta, a parte que preenche a minha lacuna
Que parte é essa?

Quero a parte do todo que o meu resto é a parte que me falta
Eu quero é participar dessa parceria que me parece prateleira das partes perdidas
Eu quero encontrá-las e registrá-las
Eu quero a outra parte

Um balé suave e cheio de descobertas
Uma outra parte que parta
A parte da morte
Morte, palavra que assusta, temida pelos fracos, covardes em desejos
Morte tu que es tão forte, morte tu que es tão temida

Morte dançada aos que não fazem parte
Uma morte para todos que gritam suas mediocridades
Morte aqueles que mentem que são forte
Morte a todos que se afastam da sua própria parte

Redenção a quem faz parte da sua parte
Redenção as minhas vontades,
Sou uma parte do que está para ser.

..Érica Beltrame

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Todo amor tem seu preço

Obra Girl Before a Mirror, c.1932 - por Pablo Picasso

Uma vez a jovem se arriscou em um relacionamento onde a beleza era fato, foram dois anos de tentativas de entender tal beleza e de superar todos os obstáculos que a poderia tirar-la de perto de sua amada. A beleza de sua garota era tanta que ofuscava seu próprio ser, tinha dia que ela quase nem existia. E houve noites que temeu sair pelas ruas da cidade com sua amada, tremia aos prantos ao pensar que poderia voltar sozinha. Era caro transformar quase que todas as noites em uma noite romântica a dois.

Até que um dia não foi possível fazer uma noite romântica a dois e acabou voltando sozinha pra casa. Toda beleza tem seu preço, que todos nunca se esqueçam disso.
Os anos foram assoprados pelo vento e pelo tempo, as novas linhas da vida começaram a ser traçadas, surge ai um novo amor com uma beleza diferente de todas já vivida, tão diferente que às vezes parecia assombrar, agora, o que ela diz é que é feliz, e sua historia amorosa ganhou a feiúra das mulheres, mas está cheia de felicidade e prazer.

Os passeios pelas ruas da cidade continuam sendo feitos aos poucos o que a deixe aflita agora, é desfilar ao lado de tanta feiúra, as noites a dois são facilmente inventadas, agora já não se sente ofuscada, mas pensa toda vez que recusa um bom passeio entre amigos que todo amor tem seu preço.

..Érica Beltrame

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Uma a Uma

foto: Érica Beltrame

Esse é mais um gozo, um gozo que talvez seja incomparável a qualquer outro tipo que venha me acontecer. Eu nem esperava te-lo tão cedo. Está chovendo e faz frio, o dia hoje é definitivamente úmido, não há nada de seco a não ser meu estado.

As palavras estão começando a sair do meu imaginário, eu as imagino primeiro, depois fico sentindo uma a uma. Muitas delas parecem nem ser, mais quando as toco logo sinto seus batimentos. As palavras me batem na cara, e não é nada como os pingos da chuva, esses pingos são poéticos, aliviam a alma de quem esperava por algo que lavasse o que mostrava-se sujo.

Na minha cara fica forte, uma mascara de ferro, tem vida no seu teatro. Meu palco está aberto, e eu nem estava preparada, não ensaiei nada, não estou esperando ser ovacionada pela platéia. Espero só que o silêncio seja respeitado, não terei nada a dizer nessa cena que foi escrita por você. Estou preparada.

Bobagem querer escrever algo que faça sentido para tudo isso, é tão mais simples e seguro ficar sentada em frente à janela ouvindo a chuva, apreciando a cor cinza e seus variados tons no céu, quero algo que amorteça a queda, pois não sou como a chuva e sei que ao cair será como um cristal quebrando, não sobrará nada.

A queda é lenta, a platéia terá que participar só assim a queda será como tem que ser. Os pensamentos falam mais alto do que o próprio texto que não existe. Qual a sua preocupação nesse momento? Está pensando se vai quebrar? Está imaginando como é caro um cristal? As mãos já estão encostadas nos ouvidos? O medo!

Medo de ser muito alto o som ao tocar o chão, medo que espalhe e corte a face, medo ao pensar que não encontrará uma peça igual. Não deixe o ridículo tocar você, isso não tem valor, a queda é muito mais valiosa. Aprecie a queda, a lentidão pode te dar um gozo de perceber a beleza dos estilhaços que estarão prestes a ficar espalhados pelo palco.

Aprecie, goze da queda do cristal, goze o instante em que tocará o cão, o som do cristal poderá revelar algo novo aos seus ouvidos. Vamos! Não quero ninguém com as mãos nos ouvidos no momento em que largar o cristal. Quero que sintam coragem, quero que olhem e não se fechem. É apenas uma taça de cristal e a champanhe é da mais barata.

..Érica Beltrame 

Borboletas Amarelas

Foto: Érica Beltrame 


Borboletas amarelas voam sobre a grama verde
No céu, o azul avisa que vem chuva
O cheiro da terra sobe
Traz lembranças de quando corria
Corria para pegar a Borboleta amarela

Corria dentro e fora de casa
Andava pelo chão com os pés descalços
Ouvia sempre uma voz gasta pelo tempo
Que dizia – cuidado vai cortar os pés

Corria para pegar as borboletas amarelas
Corria para sentir o cheiro da terra subir
Esperando a chuva chegar

Os cortes nos pés me fazem falta
A voz gasta pelo tempo fica cada vez mais distante
A chuva demora a chegar
O cheiro da terra sinto somente quando me distraio

Mas a grama ainda é verde
Verde diferente daquela
Faz aqui uma grama seca, gasta
Uma grama que só se sente quando chove
Mas vejo as borboletas amarelas sempre
Passam com seu vôo deixando sempre a impressão de estarem perdidas
Não corro mais para paga-las
Hoje são elas que me pegam.

..Érica Beltrame