quinta-feira, 22 de julho de 2010

Tempo

foto: Perdido na Chapada dos Veadeiros - Érica Beltrame
Certa nostalgia me tomou por inteira agora.
Lembrança de um tempo que se fazia repleto de vontades, algumas minhas e outras que se faziam pelo instante, estas que estão cravadas nesse tempo que me toma o pensamento nesse exato momento.
O tempo agora faz com que algumas coisas pareçam maluquices, como a minha vontade de encher o chão com papeis para derramar cores sem intenção de formas, parece imaturo a minha vontade angustiante de correr em uma tarde fria para erguer a pipa no alto. Alto de um planalto saudoso que explode dentro de mim quase que todos os dias.

No tempo de hoje é maluquice subir em arvores, é estranho ficar olhando nos olhos de alguém sem dizer palavra alguma. É um estranhamento deslizar minhas mãos aonde vou descobrindo formatos de um corpo que se fez em um tempo que eu não estive presente. Hoje não consigo ser, pois não tenho o que se faz inteligível para mim mesma.

Não imaginava que existiria um momento em mim de fuga das minhas próprias vontades, é o amadurecimento. Estou em fuga, fugindo das vontades que me tiram o ar. Eu mesma não me explico o porquê de tudo isso. Talvez tenha sido o tempo, ou então a vontade de deixar que esse instante chegue quando nada mais apontar-se para outras vontades. Então viverei correndo do que realmente é para ser?
Viro todas as paginas e algumas parecem ser eternas, parecem não, elas são. O olhar e o meu sorriso não sintonizam mais. Não é tristeza. Tenho em mim a felicidade das coisas.

Hoje está sendo um dia em que correr para subir a pipa já me basta para ser o que eu realmente sou.
O tempo me tirou instantes que completavam momentos que deveriam ser eternos, eu não anulo nunca os clichês. O tempo me tirou instantes no qual me perdi em um amontoado de coisas que parecem ter chegado depois de um vendaval. Esse tempo passou levando instantes que eu ainda construía.

Não é infelicidade, eu sinto a alegria do que me faço hoje. Talvez seja uma questão de querer mais tempo em certos instantes.

..Érica Beltrame

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mapa

foto: Érica Beltrame
Todos os meus mapas indicam um mesmo destino. Confesso que às vezes me desgasto tentando mudar a direção, mas o que eu realmente quero é me desgastar ao seu lado. Então, aceita logo os meus tênis rasgados. Aceita logo meus discos de rock and roll e os meus jeans gastos. Senta do meu lado para ver o mundo ser salvo por algum super herói, por que o que eu realmente quero é me desgastar ao seu lado.

Vem comigo em um domingo cedo alisar os cabelos brancos da minha velha infância. Os meus mapas indicam um mesmo destino o que vem pela frente são pequenas mudanças. Vamos sentar e esperar o dia passar para irmos até a lavanderia buscar nossos jeans. Então vem comigo olhar a criançada se lambuzar de doce na festa de aniversario. Senta do meu lado e vamos passear a 40 por hora pelas ruas estreitas da cidade.

Vamos deixar o desgaste do tempo sobre as coisas que parecem não terem mudado de lugar, vem comigo porque os meus mapas indicam que chegaremos bem.

..Érica Beltrame