sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Desconexo


Existe um desconexo dentro de mim, que ainda não me dá nenhum sinal de que um dia possa se transmutar para um todo conectado. Na minha vida, essa em que descobri as palavras, nunca me foi possível uma boa contextualização, sempre deixei lacunas em minhas escritas. Existem lacunas na vida de todo mundo, mais propriamente dito, existem lacunas em todo o mundo das coisas. Se Deus criou todas as coisas, existe a lacuna do acreditar ou não em Deus. O ser humano é racional, porém existe a lacuna entre o agir racionalmente ou emocionalmente. E é diante dessas lacunas que o mundo das coisas atemporal vai desenhando elos com o vazio. Estar vazio, é estar com os “pés”, entre a lacuna do existir, e a do ser. Não me basta apenas existir necessito do ser. Quero dizer que, se apenas existo, não sinto, se apenas sinto, não existo. Gera um confusão mesmo. O que eu quero? Não garanto entendimento algum, mas quero existir sentindo, por que, até agora o que me parece é que apenas existi sem sentido algum.

..Érica Beltrame



terça-feira, 1 de outubro de 2013

Oras, despoetizando

Magro com a pele suja do tempo que a vida lhe deu andando pelas ruas...passa rápido...puxa os galhos do vaso de flores...flores escolhidas com carinho para um lugar sonhado e protegido.
- hey...não puxa isso, vai destruir a flor.
Corre...corre...a poeira da pele suja, quase chega a cegar meus olhos.
Horas, oras a raiva passou...estou respirando novamente.
A raiva tira o folego e cega a mente.
Horas, oras...ele está de volta, sentado no seu silencio, parece raivoso com a vida que lhe empoeira a cara.
- não puxa minha flor!
- sou poeta...posso escrever um poema?
- poeta? então pare de despoetizar a beleza de minhas flores, oras.
- estou estressado!
E a vida segue empoeirando a cara, o rosto a face de quem não sabe sentir sua brisa leve.

..Érica Beltrame 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Inverno Ato 8

E há momentos na vida que a pele eriçada, nada mais é, que uma casca seca como de uma velha árvore

Rego a secura com lembranças dos instantes que pude tocar e que hoje é algo desconexo


O desconexo nem sempre é regado da falta de sentido


Irei me regar do contexto, e as noites passarão a ter a mesma simplicidade do olhar de quem não sabe amar


Desejo o abandono da sua umidade, prezo pela simplicidade em meus sonhos


Irei me regar para a desconstrução de todos os sorrisos descarados


Irei temer as noites que possam me oferecer algo a mais que a simplicidade da noite pós dia


Sangrarei de olhos fechados para não sentir o corte fino na carne


Não tocarei mais o desconexo, regarei o contexto no bom texto, mesmo que o que me reste, seja tão pouco burlesco, como o seu olhar, esse olhar perdulário 


Me rego para que, tudo o que me inspirava, não seja tão seco como minha própria secura nesse instante.


..Érica Beltrame









quinta-feira, 9 de maio de 2013

Outono Inverno ato 8


É que às vezes o sonhar é a única forma de tocar o desejo
E de repente o inconsciente é meu único álibi
E são as coisas intocáveis que sorve a consciência
É pela fresta da janela que o vento entra feito navalha
E tudo parece tão claro, mas o que se tem é escuridão
E está tudo tão seco, onde tudo deveria ser úmido
Será que em todos os invernos eu temerei meus sonhos?

E em todos os invernos minha boca sangrará?
Com o vento fino feito navalha, os cortes se abrem

E o meu escudo é a minha lembrança
A minha lança é o meu desejo
E eu corro para qualquer canto tentando acordar

Mas o que eu mais faço é sonhar
Quem é que tem o sonho que deseja?
Quem é capaz de enfrentar um pesadelo sem acordar?

O que me fere é não querer acordar
O que me alimenta é poder sonhar
E há de se ter um inverno, onde sangrarei ao olhar seus olhos
E eu estarei acordada. 

..Érica Beltrame

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A espera de mim mesma

As horas passaram e os minutos correram atrás dela
Tudo que estava ao meu redor foi modificado
Estamos transformados

Estou aflita
Aflita à espera de uma aeronave que parece nunca chegar
Às vezes piscamos os olhos para sonhar, para retomar, para relembrar
Tolo aquele que não vê o passado à sua frente como uma grande possibilidade
Se é ou não tocável, que ao menos esteja pleno no mundo das coisas

Estou aflita à espera de uma aeronave que parece jamais chegar
Os olhos se enchem de lembranças, e tudo se torna intocável
Onde foi que eu te perdi?
Qual foi o momento em que os planos foram mudados?

Estou aflita à espera de uma aeronave que parece nunca chegar
Acreditamos em nossas promessas e hoje velo por elas
Acreditei poucas vezes em minha intuição e fiz escolhas
Hoje fecho os olhos para tentar esquecê-las.

Estou do outro lado da rua à espera de uma aeronave que sei que é possível chegar
Talvez seja esse o momento de abrirmos os olhos juntas e replanejar
O mundo ao meu redor está transformado e seu futuro eu já conhecia

Não consigo ver em qual momento mudei nossos planos
Só consigo ver o intocável, e tudo que ficou perdido lá atrás
É você que eu estava esperando
É você meu último trago

Era de você que eu falava enquanto tomava café à espera no saguão
É você que tem me chamado à noite toda
Só não sei se tenho a mesma audácia
Mas sei que é você agora.

..Érica Beltrame


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Permita-se


foto: Érica Beltrame
Às vezes eu me procuro e percebo que nem perdida eu estava.
Existem dias que sinto que me encontrei, mas percebo que estou completamente perdida, e percebo em instantes que existem pessoas muito mais perdida, e percebo o quão normal é se sentir no perdido desapercebido, e sinto estar sendo dilacerada pelo desespero do desejo do reencontro de si mesma. Inevitavelmente me reencontro... E o não estar perdida é privar-se de um reencontro renovador e marcante. 
E, assim vou me permitindo estar perdida e me reencontrando a todo instante.
foto: Érica Beltrame


















..Érica Beltrame