foto: Érica Beltrame |
Nesse instante ela (a secura) existe e começo freneticamente, a molhar os lábios repetidamente com minha língua. Com movimentos circulares lentos e às vezes rápidos, que levam saliva para umedecê-los. Sinto em algumas vezes certa neurose no ato, como se algo estive modificando meu estado lúcido me deixando em um transe, o transe da língua em busca dos lábios secos. Mas continuo fazendo.
A saliva está tão quente que me sinto um recipiente armazenando líquido inflamável, meus lábios estão quase em carne viva. Me senti desconformtável agora.
A ardência não me incomoda, percebo um prazer nisso tudo. Algo nessa secura ainda me agrada, estou prestes a me secar por inteira. Creio que pode ser essa a explicação, o prazer de ser inteiramente seca está presente agora. Mas já me senti seca antes, quando as palavras me faltaram, quando meu vazio estava totalmente vazio, sem nada para alimentá-lo, mas hoje é diferente.
Meu nariz esta levando o ar quente e seco aos meus pulmões, como uma navalha quando está sendo passada na barba velha em busca de rejuvenescer o que o tempo levou e não devolverá.
O meu afável vazio, esse é do meu domínio, e logo sei que o trago de volta. Se existe alguma estranheza certamente essa é causada pelos meus olhos. Tenho percebido uma cegueira, mas não é uma cegueira tradicional, nada em mim é tradicional, a não ser a vontade de estar presente nos almoços de domingo na casa de minha avó.
Minhas idéias permutam, me deixam confusas quando falo de minhas vontades tradicionais. O que mais existe de tradicional? Casar-se com o primeiro amor, não se desperdiça um bom partido, ou uma bela boca, ou então uma bela bunda.
A vida se atualiza, e o vento pode levar em um segundo a tradicional felicidade para longe. Não é questão de infelicidade. Estou tentando entender essa secura, nada mais.
..Érica Beltrame
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